As novelas tal qual as conhecemos são o fruto do desenvolvimento tecnológico na área da comunicação.
Iniciaram com o aparecimento da rádio. As novelas radiofónicas. Não sei qual foi a primeira transmitida em Portugal. Lembro-me da “Maria”, transmitida aí pelo fim dos anos cinquenta, princípio dos sessenta. Foi extensa e teve êxito. Era dramática. A entoação dada pelos autores era tão convincente, que os ouvintes, sobretudo as mulheres, choravam. Os maus eram rebaptizados com nomes pouco próprios!... Algumas reviam-se na trama e até prognosticavam o final. Não me lembro de outra, nem antes nem depois, mas admito que tenha havido mais.
Na época de ouro da rádio, romances famosos de bons escritores foram adaptados e transmitidos, abrangendo, por esta via, um universo maior da população. Estavam disponíveis em livro, mas, lembro que até meados do século XX, a maior parte das pessoas era analfabeta. Foi um grande salto na divulgação de cultura, costumes e informação, até então, só privilégio de alguns. Mesmo assim, ainda ficou muita gente de fora, devido á escassez de rádios. Na altura, um rádio era um objecto de luxo.
A televisão, logo que apareceu, revolucionou e desenvolveu esta actividade em grande escala. Concorreu e fez bastante mossa no cinema clássico. Não necessitava do aparato das produções cinematográficas e podia ser vista na comodidade do lar. As estações criaram os seus próprios estúdios e contratavam os actores pontualmente para as produções que se propunha realizar.
Penso que os pioneiros foram os Americanos. A série “Bonanza” nos anos cinquenta / sessenta foi um êxito espectacular. Outras que se seguiram não ficaram atrás.: Dallas, Sérpico, Missão Impossível são exemplos. Algumas até já foram ou estão a ser repetidas. O Chaparral – actualmente – foi transmitido aos Sábados pela RTP Memórias. Mesmo em repetição, sabe bem ver, o que indica a sua qualidade.
Eram boas, mas tinham um senão!... Eram legendadas. Tendo em conta a taxa de analfabetismo da época …concluímos que a maior parte se ficava pelas imagens, sem perceber a história.
O Brasil, encarregou-se de resolver o problema. Muito cedo começou a produzir as suas próprias novelas. Tanto quanto sei a, extinta, TV Tupi, baseada no livro de Jorge Amado, produziu em 1960 a novela “Gabriela Cravo e Canela” que teve, no Brasil, um êxito estrondoso. O êxito foi tão grande que em 1975, a TV Globo, resolveu produzir uma nova adaptação. O êxito ainda foi maior!. No nosso país, até á revolução de Abril, não passou nenhuma novela Brasileira. Penso, sem certeza, que tal facto se deve á situação política que, então, se vivia!... A Televisão totalmente controlada pelo estado e a censura, são, indicadores, mais que evidentes!...
Como não podia deixar de ser, as novelas Brasileiras eram faladas em Português!. Isto para o nosso país era ouro sobre azul. Ver as imagens, perceber e entender a história era magnífico!... Tendo consciência disso, os responsáveis pela programação da RTP, em 1977, compraram, á TV Globo, os direitos de transmissão do novela “Gabriela Cravo e Canela”. Foi a primeira novela a ser transmitida na nossa Televisão em língua portuguesa. A estreia foi em 16 de Maio de 1977. O êxito foi enorme. Revolucionou os nossos gostos, hábitos e sobretudo atitudes. Á hora da novela, transmitida em horário nobre, o país parava para ver. Correu o boato que um Conselho de Ministros terá sido interrompido durante o último episódio, para assistirem ao desfecho!.. Por todo o lado se ouviam frases e termos brasileiros!.. Durou sete meses, com transmissão de cinco episódios por semana.
A partir daqui, outras lhe sucederam, com êxitos idênticos: Casarão, Roque Santeiro, Rainha da Sucata e Escrava Isaura, esta em segunda adaptação – Foram algumas!... A larga experiência, quer de produtores quer de actores, garantia a qualidade das produções e consequentemente o êxito.
Penso que o êxito brasileiro alcançado, contagiou os portugueses, que em pouco tempo lhe seguiram o exemplo. O humorista Herman José, deu os primeiros passos, com os seus sketch´s episódicos. A primeira grande produção a sério, foi levada a cabo pela RTP, com a novela “Vila Faia”. A história era interessante e o elenco de actores era do melhor que tínhamos. Não tinham experiência de Televisão mas eram autoridades em teatro e revista. Adaptaram-se perfeitamente. Não me lembro qual a novela brasileira em exibição, na altura, mas, fosse qual fosse não prejudicou a portuguesa. O êxito foi acima do esperado. Para início a RTP e todos quanto colaboraram, estavam de parabéns. E, na verdade, com adaptações de grandes obras ou guiões próprios, nunca mais pararam: Origens, Maria do Mar, Ilha dos Amores, a Ferreirinha – são exemplos. Sem esquecer o recentíssimo galardão à “Meu Amor”. A abertura dos canais privados, SIC e TVI, contribuíram em grande para o seu desenvolvimento. Cada estação tem, actualmente, os seus próprios produtores e actores exclusivos.
Hoje, verificamos que uma boa parte da programação dos três canais a operar, é dedicada ás novelas. Por vezes, em horário nobre, são transmitidas duas. Normalmente uma portuguesa e outra brasileira. Em qualquer delas a audiência é elevada; o que não me surpreende, uma vez que o enredo foca casos que mais parecem reais.
No entanto, como em tudo, há quem as critique negativamente. Classificam-nas de anti culturais e acham que são em demasia. Dizem que não vêm!.,.,, Que não vêm “foleiradas”!... Mas, alguns destes “pseudo críticos”, em conversa corrente, utilizam termos que não enganam!... Conclui-se, que afinal vêm!...
As novelas são um fenómeno que dignifica realçar. Além de projectar cultura e informação, entram na esfera económica, ao criar postos de trabalho. Com o teatro e revista em decadência ou com pouca procura, os actores disponíveis e candidatos, podem assim desenvolver e aceder, mais facilmente, á actividade. Mais, promovem o consumo nacional e permitem a comparação dos nossos actores com os estrangeiros, que em nada lhes ficam atrás. No fundo, as novelas são um exemplo de progresso, fruto do progresso!...