Terça-feira, 2 de Novembro de 2010

Nasceu sem nada e morreu sem nada

 

Nasceu sem nada e morreu sem nada

 

António Monteiro, foi o segundo filho de um casal que vivia da caridade. O irmão, João, tinha mais dois anos que ele. A casa onde viviam, era um palheiro emprestado, térreo de espaço aberto e de telha vã, muito quente no Verão e muito frio no Inverno. Uma lareira, sem chaminé, num canto, aquecia o ambiente. As camas, enxergas, em cima de uma tarimba, estavam prostradas perto da lareira. Era um lar que tinha pouco mais que zero. Os pais que nunca se preocuparam em arranjar trabalho viviam de esmolas. Saíam de manhã, com saco ás costas e de porta em porta, na aldeia e em aldeias vizinhas, pediam ajuda. Eram bem conhecidos de toda a gente. Com pena, piedade e por caridade as pessoas davam algo do pouco que tinham: Alimentos, na maioria, já cozinhados, roupas e utensílios usados. Raramente, dinheiro. Destas parcas esmolas vivia esta família. Os dois filhos logo que cresceram, seguiram o mesmo caminho.

O António era um miúdo muito vivo. Cedo se apercebeu da miséria em que vivia.  Olhava os miúdos da sua idade e tinha pena de não viver como eles. Sonhava com uma casa como a deles!!!. Sonho esse, impossível de realizar a pedir esmola. Sentia-se o mais pobre dos pobres!!!.

Aos 12 anos conseguiu que um pequeno construtor civil lhe desse trabalho como servente de pedreiro. Embora, o salário fosse muito pequeno, permitiu melhorar substancialmente a vida da família. O irmão, vendo que era melhor ter dinheiro que pedir, seguiu-lhe o exemplo. Com dois salários, já podiam comprar a maior parte do que necessitavam para viver. Recebiam á semana. A meio da semana seguinte, já não havia dinheiro. Os pais gastavam tudo. Acomodados á situação, saíam uma vez ou duas, por semana, a pedir. Basicamente viviam á custa dos filhos!. Foi assim, durante dois anos. Os filhos trabalhavam e os pais ficavam em casa.  Como era de prever não amealhavam nada e continuavam a viver mal.

O João, com 17 anos, começou a ver que assim não melhorava a sua vida. Um dia pôs os pontos nos i´s: - Do meu salário vou-lhes dar metade para gastos da casa, e a outra metade vou juntar. – Disse aos pais. Estes ainda barafustaram, mas tiveram que aceitar. Aos vinte anos, com a profissão de pedreiro, casou e fez uma vida normal. Estabeleceu, dar aos pais, um montante para sobreviverem.

O António queria ir mais longe. Seguiu o exemplo do irmão: Começou a amealhar metade do salário. Mas, era pouco para a sua ambição. Dava voltas á cabeça, tentando descobrir, a maneira de ganhar mais dinheiro!!.

Algumas famílias da aldeia que tinham hortas, habitualmente criavam um animal doméstico para vender: Porcos, cabritos e borregos eram os mais comuns. António pensou nisto, mas não tinha horta!. Ao saber que um proprietário, por motivos de saúde, queria arrendar a sua, nem pensou duas vezes!. Tinha dinheiro, mais que suficiente, que lhe permitiu pagar a renda de um ano. Comprou cinco borregos pequenos. Ao fim de três meses vendeu-os pelo dobro. Comprou mais cinco e fez o mesmo três meses depois. Aos dezoito anos, tinha um bom pé de meia. Mesmo assim, para a sua ambição, achava pouco.

Experimentou encurtar o tempo de criação. Ganhava menos em cada uma, mas vendia mais. Compensava. De três meses passou para mês e meio; de mês e meio para um mês; de um mês a quinze dias; até que se tornou negociante de gado: Comprava e vendia de imediato. Fornecia talhos e andava de feira em feira. Deixou de trabalhar por conta de outrem, á medida que o negócio cresceu.

Aos vinte anos estava por sua conta e risco. O negócio prosperava. Ganhou muito dinheiro. Não era rico mas vivia sem problemas. Não comprou terras, mas fez uma casa, enorme, com todas as comodidades da época.

A força do dinheiro, transformou a sua simplicidade e humildade em vaidade, arrogância, presunção e egoísmo. Não quis os pais a viver com ele. Por descargo de consciência, responsabilizou-se pelo aluguer de uma pequena casa com condições aceitáveis de habitabilidade. Pagava a renda e contribuía com algum  dinheiro para a sobrevivência dos velhos.

Contavam-se muitas histórias, acerca das suas atitudes incorrectas que lhe mereceram o desprezo de muita gente. Gente, que o ajudou a criar, enquanto viveu das esmolas. De todas a mais impressionante foi a que se passou com o seu principal fornecedor de gado, um criador da aldeia. Tinha muitas terras e vivia bem. Criava vacas, ovelhas e cabras. Toda a criação, para venda, era transaccionada com António. Vivendo os dois na aldeia, tornava-se fácil, cómodo e vantajoso.  Como bom negociante, o António não pagava logo. Uma vez, atrasou-se mais que o habitual e o criador foi a casa pedir-lhe o dinheiro. Este era simples, humilde e educado. O calçado que usava era próprio dos lavradores da época: Tamancos. Bateu á porta de António, e quando este respondeu, pediu licença para entrar!.. A resposta foi surpreendente: - Não. Em minha casa não entram pategos que calçam tamancos. Ah!. Desculpa!. Venho ver se me podes pagar os borregos que levaste no mês passado?. – Balbuciou o criador, com espanto!. – Já estava aqui de lado!. Pega!. – Com um obrigado, o criador afastou-se.

Obviamente o homem não gostou!. Já sabia da soberba do outro, mas nunca pensou ser humilhado, daquela maneira, tendo em conta o relacionamento de “negócio” entre os dois. A vingança, do criador foi simples: - No fornecimento seguinte a este episódio, exigiu o pagamento imediato!. Claro que António não gostou, mas teve que se sujeitar!. O negócio era demasiado bom para o perder.

Com muito dinheiro, António começou a ter muitos “amigos”. Com ostentação pagava “copos” e mais “copos”. Com alguns, de fora da aldeia, até grandes petiscadas fazia. “Amigas” também não faltavam. Eram mais que muitas. Com estas, António era muito fraco. Até dinheiro lhes emprestava. Com uns “favores” e umas choradeiras pelo meio, acabava por lho dar!!!.

Com a idade de 70 anos, António, já não conseguia dinamizar o negócio. Entrou em declínio. Os lucros eram cada vez menores!. O custo, de sustentação da “bela” vida e dos amigos era superior ao rendimento. Em dez anos, estoirou o que tinha conseguido arranjar!!!. Vendeu a casa com tudo o que tinha dentro e fez da furgoneta a sua habitação!. Os amigos afastaram-se. Passavam por ele, fingindo não o ver ou conhecer.

Acabou por vender a furgoneta e foi viver, sem ordem, para o palheiro onde nascera, que entretanto tinha sido comprado pelo criador dos “Tamancos”. Este ao vê-lo lá, numa manhã, aproximou-se e disse-lhe: - Oh! António!. Eu podia correr contigo daqui para fora. Só não o faço porque tenho pena de ti!.. … Autorizo-te a ficares o tempo que quiseres!. – E, fixando os sapatos, velhos, que António tinha nos pés, disse: - Quando acabares de romper os sapatos que tens calçados, terei muito gosto em te oferecer uns tamancos. – Voltou-se e foi-se embora, sem dizer mais nada.

Passado algum tempo, António faleceu: Morreu como nasceu!. Sem nada!!!.

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Sexta-feira, 16 de Julho de 2010

O Sonhador

Lourenço, na aparência era um homem normal e singular. Bem falante, simpático, educado e improvisador eram atributos marcantes naquele homem. Falava muito e fazia pouco!. Mas sonhos não lhe faltavam. Tinha sempre em mente um projecto que o levaria longe!. Dizia-se que foi o homem que mais profissões tentou, sem acertar em nenhuma. E é isto o interessante da sua vida!... Era conhecido por sonhador – Lourenço sonhador – para ser mais preciso. Lembro-me dele, já na fase final da sua vida, como vendedor de cautelas. Lembro-me de algumas histórias que se contavam acerca dele, que vou tentar reproduzir: Antes da instrução primária, era uma criança normalíssima. O seu desenvolvimento foi o normal da época. Brincava com as crianças da sua idade e não se viam diferenças dignas de realce. Os outros miúdos gostavam dele. Era alegre divertido e empreendedor nas brincadeiras. Nunca fez distinções. Tratava todos de igual para igual o que lhe valeu a amizade colectiva e incondicionada. Não é de admirar. Afinal, ainda, eram crianças sem preconceitos. Já na escola, apareceram os primeiros indícios de personalidade fora da gama!. Era esperto e inteligente!. Aprendia tudo!. Só que não estudava. Fez os quatro anos de escolaridade obrigatória sem comprar um único livro. Fez o exame da quarta classe com o que aprendeu nas aulas. O professor Paulo, muito cedo se apercebeu do potencial do rapaz, e aconselhou-o para o melhor: - Lourenço, estuda que podes ir longe!. Sei que não tens posses para ir para o Liceu, mas há instituições que te podem acolher e aí fazeres um curso. – Dizia-lhe com frequência. - Que instituições? – Perguntava. – O Seminário, os Pupilos do Exército, a Casa do Gaiato ou a Casa Pia!. São instituições adequadas á tua situação. Grandes homens que fizeram história passaram por lá!. - Vou pensar nisso!. – Respondia. Claro, que só pensava naquela altura. A partir dali nunca mais se lembrava. Terminou a instrução primária à tira, anulando de imediato qualquer possibilidade de continuação!... Aos doze anos iniciou a fase profissional da sua vida. Começou numa quinta, como ajudante de hortelão. Mostrou interesse e aplicou-se. O mestre acreditou que tinha ali um aprendiz capaz e continuador da sua bela profissão. Erro. Ao fim de algum tempo, começou a saturar-se daquilo. Gostava de falar com pessoas e conviver. Viver numa quinta, era demasiado monótono – dizia ele. - Ao fim de um ano abandonou. Conseguiu convencer um marceneiro a ensinar-lhe a profissão. Começou bem!.. Lidava bem com a madeira e aparentava vontade de aprender. O patrão estava orgulhoso. Dar a mão a Lourenço era uma dádiva naquela aldeia. Quem o fizesse era quase como um herói. O sr. Camilo – assim se chamava o marceneiro – não escondeu nenhum segredo da profissão. Explicou!... Mostrou!... Exemplificou!... Enfim. Quis fazer dele um profissional. E, de facto, Lourenço ia muito bem!. O que fazia, fazia bem!.... Já fazia encalhes e asa de andorinha com perfeição!. Inesperadamente, sem que ninguém esperasse, e muito menos o sr. Camilo, Lourenço demitiu-se!... Alegou que o pó da madeira lhe fazia mal à saúde. Camilo ainda tentou dissuadi-lo da ideia ……… sem êxito!... Quis ser mecânico de automóveis. Com uma “cunha” conseguiu entrar numa oficina. Só esteve três meses!.. Pensava que como aprendiz, começava logo a mexer nos automóveis!. Mas não!. Lavar peças, arrumar a ferramenta e limpar a oficina eram as tarefas iniciais dos aprendizes, e ele não era excepção!. Não gostou!.. Alegou que não se dava bem com o cheiro do gasóleo e desistiu!... Ser electricista, foi o sonho seguinte. Um conterrâneo, profissional, admitiu-o como ajudante. Este, conhecendo as tentativas anteriores de Lourenço, não acreditou que resultasse. Mas, como não tinha nada a perder, deu-lhe a oportunidade!. Para sua surpresa, o rapaz indiciou interesse!... O facto de a profissão exigir muitas deslocações, entusiasmou-o. Não gostava de estar muito tempo no mesmo sítio!. Além disto, os mecanismos eléctricos cativaram a sua atenção. Em dois anos aprendeu a profissão. Para exercê-la necessitava da carteira profissional. Para a conseguir era necessário candidatar-se e fazer um exame teórico. E, aqui é que Lourenço roeu a corda!. Candidatou-se mas não foi fazer o exame!... Nesta situação não podia exercer por conta própria!. Assim, entre trabalhar por conta de outrem ou abandonar, preferiu abandonar!... Aos vinte anos foi cumprir o serviço militar. Não gostou. A subjugação à disciplina do RDM não era do seu feitio. Gostava de liberdade!. Um ano naquela situação foi uma eternidade. Saiu como entrou, sem medalhas, louvores ou castigos. Já na disponibilidade, dizia. – A minha vida vai mudar. Vou arranjar um emprego e dedicar-me a cem por cento!. – poucos acreditaram!. – Lá está ele!... – Comentavam. Imigrou para Lisboa. A decisão foi repentina. Ninguém soube quem o ajudou!. Mas alguém foi!. Alguém alvitrou, ter sido um conterrâneo há muito tempo estabelecido na capital, na área da restauração, e que tinha estado na aldeia havia pouco tempo. Não esquecer, que ele era cativante nas conversas e conseguia convencer!. O Zé Maria caiu!. Provavelmente foi o que aconteceu! De facto em Lisboa foi na área da restauração que se iniciou. Empregado de mesa num restaurante de bairro. Sabe-se que passou por outros com mais notoriedade. Não é de admirar!. Com todos os defeitos que Lourenço pudesse ter, a verdade, é que, onde se metia saia-se muito bem. O problema estava na continuidade! Só se sentia bem onde não estava!. O que vinha a seguir era sempre melhor!... Emigrou para França. Não se sabe como!. Provavelmente como tantos outros. A salto! Era assim nos anos sessenta. Por lá trabalhou em tudo: Ajudante de pedreiro, Electricista e Restauração. Na restauração foi onde mais tempo esteve. Percorreu praticamente todo o país. Não era difícil arranjar trabalho nesta área e ele aproveitou bem!. Regressou como emigrou!. Pobre!. O que ganhava era para sobreviver!. A sua ambição não ia além disto!... Quando regressou de França, reiniciou por Lisboa. Foi lá que ficaram os últimos contactos!. Parece que manteve sempre as instalações onde habitava antes de emigrar!. Como falava bem Francês, arranjou emprego num hotel, como recepcionista!. Ganhava razoavelmente e foi o emprego que mais tempo manteve. Um piropo, inadvertido, a uma cliente, valeu-lhe o despedimento!... Regressou ás origens com sessenta e cinco anos. Cheio de projectos!. Na sua teoria tinha um futuro pela frente!. As pessoas ouviam, e à socapa sorriam!. Outros gozavam. – Agora é que vai ser!.. Ainda vais chegar a Presidente da República!... – Rematavam em gargalhada. – E curiosamente na sua simplicidade, associava-se ás risadas. Até parecia que entrava na reinação!... Nunca casou. Não se sabe dos seus envolvimentos amorosos. Se os teve, nunca falou deles!... Conhecendo a sua natureza leviana e a idade com que regressou á sua terra natal, era mais que evidente que os projectos que apregoava, não passavam de teoria. De facto, por mais tentativas que tenha feito, conseguiu uma ocupação como vendedor de cautelas. Ganhava pelo número que vendia e não se saía mal!... Fazia a sua vida sem sobrecarregar ninguém. Antes pelo contrário!. Quando tocava a pagar rodadas de bebida em tabernas, ele era o primeiro e por vezes bisava. Houve, até, quem se aproveitasse disso. Nasceu pobre e morreu pobre. A sua conduta natural foram o contributo para a sua definição de vida. Do pouco que conheci dele, não me pareceu uma pessoa infeliz. Não houve rumores de que tenha ofendido ou molestado alguém!. Dívidas, parece que nunca as teve!. Se as teve, pagou!... Quando morreu, teve um funeral digno. Para surpresa geral, o Lourenço encomendou-o em vida. O pároco da freguesia foi o fiel depositário. Pagou todas as despesas, antecipadamente, e testamentou que os seus precários haveres vertessem para a Santa Casa da Misericórdia. O Lourenço, tinha a cabeça leve!... É verdade!... Mas viveu a sua vida como um senhor!... É recordado com alguma admiração!... Passados quarenta anos da sua morte, ainda se fala do Lourenço sonhador, como se fala do Padre Inácio!... Penso, que nunca será esquecido!...

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Sábado, 26 de Junho de 2010

O São João no Porto

O S. João, um dos mais popularizados Santos, é festejado no Porto com toda a pompa e circunstância, mantendo a tradição que já vem de séculos. Segundo Hélder Pacheco, pesquisador das memórias populares tripeiras, o cronista Fernão Lopes já mencionava o S. João nas crónicas de D. João I.

Os festejos, de cariz popular, são preparados de forma discreta ao longo do dia. O início, propriamente dito, dá-se a seguir ao, tradicional, jantar de sardinhas assadas acompanhadas por boas saladas e vinho tinto ou verde. Terminado o jantar, os grupos de amigos reúnem-se nos locais, previamente, programados para darem início ás rusgas. O circuito tradicional, obrigatório, das rusgas é bastante longo: Fontainhas, Rua Alexandre Herculano, Praça da Batalha, Rua de Santa Catarina, Rua Formosa, Rua Sá da Bandeira, Rua Passos Manuel, Praça da Liberdade e Avenida dos Aliados. O percurso junta milhares de pessoas, munidas de martelinhos de plástico, que se movimentam agilmente, dando pancadinhas com o respectivo martelinho, nas cabeças daqueles com quem se cruzam. Antigamente, em vez dos martelinhos havia alhos porros e molhos de cidreira. Daí, o cheiro característico que se fazia sentir na cidade. Os bairros circunscritos na área das festas, organizam bailes que duram até altas horas da madrugada.

Nos dias de hoje, o S. João espalhou-se pela cidade e arredores. É festejado em discotecas, pubs e restaurantes. Tornou-se mais selectivo e cosmopolita. Perdeu um pouco a graça e a virtude de festa onde ricos e pobres conviviam uma noite de inteira fraternidade. As pancadinhas eram e são dadas indiscriminadamente sem olhar a status sociais e ninguém se zanga ou melindra. No entanto muita da tradição ainda se mantém: Os manjericos, as tendas das fogaças, as farturas, as barracas da sardinha assada; o lançamento de balões ao longo da noite e o fogo de artificio á meia noite.

A descrição fica muito aquém da realidade. Só ao vivo se pode apreciar tal beleza. É um festa sem igual no país. Quem puder deve assistir, nem que seja só uma vez, e garanto que não se vai arrepender!... Viva o São João.

 

 

Nota: Pesquisa diversa não identificada.

 

Jcm-pq

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Terça-feira, 15 de Junho de 2010

As Noivas de Santo António

 

A fama, casamenteira, de Santo António já vem de longe. O facto ou os factos que originaram esta fama, acho que ninguém sabe. Contam-se muitas histórias e contos de como começou, mas não há certezas!...

Um conto que conheço, relativo á fama, até tem alguma piada!.. O gesto que podia ter provocado um acidente, deu em casamento!... Foi assim: Uma bonita jovem donzela, com idade casadoira, esperava há muito que um noivo a procurasse. Esperou!.. Esperou!... e nada. Já farta de tanto esperar, arranjou uma estatua de Santo António, o padroeiro da sua terra. Num canto do quarto, fez um altar onde expôs, num pequeno pedestal, o Santo. Acendeu uma lamparina, de azeite, que procurou manter acesa dia e noite. Todos dias, ao deitar, ajoelhava frente ao santo e orava para que lhe arranjasse um namorado!... Se não houver um mancebo novo, contento-me com um velhote, desde que não ande de muletas!... Rogava na sua oração!... Repetiu o ritual durante semanas, meses, anos … e nada aconteceu!.

Certa manhã, em vez de orar, lamentou a ingratidão do Santo. – Tanto azeite gasto!... Tanta oração!... Deves estar surdo!... Eu, que nem sou esquisita, não mereço que não me ouças!... – Desvairada, pegou no Santo e atirou-o pela janela, no momento em que sua mãe entrava no quarto, atraída pelas lamentações!... – Blasfemaste e cometeste um ultraje. Valha-te Santo António, filha!... – Repreendeu a mãe, benzendo-se.

Passava na rua, um jovem cavaleiro, bonito e alegre, que levou com a imagem do Santo na cabeça!... Se não fosse o capacete, teria sido derrubado do cavalo, provavelmente, com um valente “galo”. Com cortesia, desmontou, pegou na estátua, que por milagre ficou intacta, e subiu as escadas exteriores da casa para devolver a imagem. Quem abriu a porta, por notável coincidência, foi a donzela. Perante a beleza da rapariga, o jovem cavaleiro apaixonou-se e passado pouco tempo casaram. … Milagre de Santo António!...

Os jogos também fazem parte da fama .

Em tempos idos, por brincadeira, as raparigas em idade de casar e sem noivo, faziam dois jogos com Santo António. Ambos na véspera do dia do Santo:

Um consistia em encher um alguidar com água e meter dentro, enrolados, como sendo rifas, papelinhos com os nomes daqueles com quem gostariam de casar. Á noite colocavam o alguidar debaixo da cama. No dia seguinte o papel que estivesse mais desenrolado, revelava o nome daquele que iria ter como marido.

O outro, faziam três bolinhas de massa de pão, e introduziam numa delas um grão de pimenta. Uma bolinha punham debaixo do travesseiro; outra atrás da porta e a outra atiravam pela janela fora. No dia seguinte, viam onde estava a bolinha com o grão de pimenta. Se estivesse: debaixo do travesseiro, o casamento seria breve; detrás da porta, casariam tarde; se foi para rua, nunca casariam!...

Durante muito e muito tempo, os noivados de Santo António não passavam destes jogos ou preces para as mais crentes.

Entretanto as coisas mudaram. A comunicação social e o marketing, meteram-se no assunto e aproveitando a fama do Santo, deram-lhe uma notoriedade diferente.

Todos sabemos que o mês de Junho é o mês dos Santos Populares. Santo António, S. João e S. Pedro são os mais popularizados. Os festejos fazem-se por todo o lado. A magia do acontecimento, o cheiro a manjerico e alfazema, o fumo das fogueira e o cheiro a rosmaninho são a imagem de marca. O nosso país mantém a tradição!... e ainda bem!... espero que não morra!...

Por volta dos anos 50, o Diário Popular e os comerciantes Lisboetas, tomaram a iniciativa de patrocinar casamentos de casais com dificuldades económicas, que presenteavam com enxoval e equipamentos domésticos. O padrinho, comum a todos os casais, era Santo António e o dia escolhido para a cerimónia foi o dia do Santo. O 13 de Junho. E assim nasceram as Noivas de Santo António tal como as conhecemos hoje.

A acção teve tanta aceitação popular, que a Câmara Municipal de Lisboa, desde logo apoiou o projecto. A projecção foi tal, que o acontecimento se tornou incontornável e passou a fazer parte das festas populares da cidade.

A tradição foi interrompida em 1974. Mas, em 1997, unilateralmente, a Câmara recomeçou a patrocinar o projecto, integrando-o no programa das festas.

Nota: Pesquisa diversa não identificada.

Jcm-pq

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Segunda-feira, 22 de Dezembro de 2008

Natal e marketing

 “ O Natal é quando o homem quiser”. Na verdade assim é. Fazer bem sem olhar a quem, qualquer altura é boa, bem vista, bem aceite e digna de realce. A humanidade reconhece e agradece.

O Natal, visto como época, efeméride, festa, aniversário ou algo mais que desconheço, é fruto de uma velha tradição católica, de há dois mil anos para cá. A sua forma e notoriedade têm sofrido algumas metamorfoses ao longo do tempo. Antes era visto, puramente, como época de índole religiosa; hoje de índole religiosa e comercial. Parece absurdo e blasfémico misturar as duas índoles.

Pensando bem, acho que não.

O ambiente envolvente criado pelo marketing é impressionante. Milhões de lâmpadas a piscar ou constantes em iluminações públicas ou privadas, com configuração de estrelas, árvores, presépios, renas, colunas ou arcos, é espectacular. A música nas ruas, avenidas, lojas e centros comerciais, alusiva á época, entra nos ouvidos com uma doçura, tão grande, que quebra qualquer coração, por mais duro que seja. Este marketing, consegue criar um ambiente de amor, de ternura e tolerância. Com amor e ternura, as pessoas aproximam-se. A troca de prendas é a prova disso. As mensagens de Natal, por qualquer via de comunicação, têm um sabor diferente do que se fossem recebidas fora desta época. As palavras ou frases podiam ser as mesmas, mas não entoariam da mesma forma. Não há dúvida, cada coisa na sua época.

Ao contrário do que muita gente pensa, o marketing desenvolvido, á volta do Natal, não prejudica em nada o seu significado religioso. Antes, reforça-o. Há mais solidariedade com os pobres e sem abrigo, oferecendo-lhe uma refeição, decente, na noite de Natal. Os lares de idosos, hospitais, prisões e outras instituições de caridade, ou não, fazem a sua festa de Natal. Ninguém fica de fora. Ninguém é esquecido.

Se o Natal fosse só quando o homem quisesse, pode ser que fosse sempre, pouca vez, nunca ou se limitasse á consoada em família. Assim, há a garantia de que pelo menos uma vez por ano, há Natal para todos. Neste caso as índoles comercial e religiosa combinadas, resultam bem. O resultado desta combinação é o que de mais sublime se pode encontrar: Amor e solidariedade entre as pessoas. E, isto é NATAL .

 

Jcm-pq

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Sexta-feira, 21 de Novembro de 2008

Ser simples ...

Hoje, as queixas do dia, salvo raras excepções, são: A vida está difícil, a vida é um martírio, a vida é uma tragédia, viver assim é complicado, enfim, é só desgraça, não há nada de bom, ou se há, é ignorado.

Curiosamente, estas queixas não partem daqueles, para quem a vida nunca foi boa. Os queixosos, na maioria, são os privilegiados.

De facto a vida não é fácil todos os dias. Há dias melhores, dias piores e dias assim assim. Mas, há pessoas, que á mínima contrariedade, por mais simples e leve que seja, soltam o seu pessimismo, clamando, drama e a tragédia, por antecipação. A isto chama-se complicar a vida. Complicam a sua e a de quem com eles coabita ou lida, provocando, infelicidade, desânimo, e por vezes, desespero. Os que assim procedem, parece-me quererem mais do que aquilo que a vida lhes pode dar, ou a que têm direito, desvalorizando, ou não dando valor, ao que realmente têm. Querem mais e mais, e por mais que tenham, nunca estão satisfeitos. Há sempre algo melhor. São pessoas, ambiciosas, presunçosas, egoístas, preconceituosas que se julgam superiores a tudo e a todos. Abreviando, são pessoas complicadas e complicativas.

Penso que estas pessoas seriam mais felizes, se fossem modestas, moderadas e sensatas, em suma, simples. Se assim fosse, não havia queixas daquela natureza.

Para ser simples não é preciso ser ou tornar-se pobre. As pessoas podem ser simples de várias maneiras, independentemente, a sua situação social, intelectual, profissional ou outra. Cada um pode e deve tirar partido de tudo o que a vida lhe dá, tendo sempre em conta uma fasquia de conduta, comportamento, entendimento, tolerância e sentimento pelos outros.

Ser simples, é ser positivo, tolerante, ter um sentido construtivo e solidário para com os outros, e, acima de tudo, valorizar e viver melhor com aquilo que se tem. Ser simples é simplificar a vida ou, pelo menos, não complicá-la.

Em última análise. Ser simples é ser humano, tolerante, educado, generoso e solidário.

 

Conclusão: Complicar a vida é fácil. Descomplicar é difícil. Portanto, é melhor ser simples.

 

Vamos ser simples.

 

Jcm-pq

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Quinta-feira, 13 de Novembro de 2008

Faina da azeitona

Nestas duas semanas anteriores, estive ocupado na faina da azeitona. Uma tarefa que já há muito tempo não participava nem via . Antes de iniciar o serviço militar participei em pleno! E, já lá vão quarenta anos! A actividade profissional também não mo tem permitido! Este ano foi o primeiro em que tive disponibilidade para tal!.

Recordei o passado!. Recordei os grandes ranchos (camarada) de homens e mulheres, normalmente casais, que se dedicavam em grupo à tarefa. Eram contratados por proprietários, com grandes olivais, em regime de empreitada ou à jorna. Para os proprietários era a maior fonte de rendimento ao longo do ano. Consequentemente, também, era a tarefa mais bem paga. Era bom para todos.

Os grupos, normalmente constituídos por quinze a vinte elementos, desenvolviam a tarefa de forma organizada. O capataz, responsável pelo grupo, coordenava as acções. Os homens munidos de escadas móveis subiam às oliveiras e ripavam a azeitona que caía em mantas, previamente estendidas pelas mulheres. Logo que terminavam numa oliveira mudavam para outra e assim sucessivamente!. As mulheres além de mudarem e estenderem as mantas apanhavam do chão as azeitonas que por diversas razões não ficavam nas mantas. Os grupos eram alegres. Quando o dia estava a correr bem, cantavam canções populares alusivas à tarefa. Recordo a mais popular: O “sol e dó” - Não te rias de quem chora, ai solidão, solidão! Que a Virgem também chorou, ai, ai, ai, ai…… - Assim dizia a letra!

 

Hoje é diferente. Os grandes proprietários acabaram, após a Revolução de 25 de Abril, em consequência da Reforma Agrária. O regime de pequena propriedade não justifica a formação dos ranchos à semelhança de outrora. Cada família colhe a sua. Quanto muito formam-se grupos tipicamente familiares (irmãos, filhos, primos …) que fazem uma camaradagem agradável. Foi o meu caso. Fizemos um grupo de seis elementos. Bem perto, uma família mais numerosa, formou um bonito rancho de dez. Estes, em dada altura ainda deram um ar de graça ao canto do “sol e dó”. A maior parte não sabia a letra! Mesmo assim gostei de ouvir!

 

E foi assim. Duas semanas numa tarefa que me deixou as mãos em mísero estado, mas que me trouxe muitas, muitas saudades!...

 

Jcm-pq

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Terça-feira, 28 de Outubro de 2008

Vizinhos

Os vizinhos são as pessoas que, por mero acaso, moram na mesma rua, na casa ao lado separada por um quintal ou até paredes-meias. Os vizinhos são vizinhos, por nada de especial. São vizinhos por coincidência. São estes como podiam ser outros. Na verdade são pessoas estranhas, que na maioria dos casos nada têm a ver umas com as outras. Por isto, na minha perspectiva, este facto, só por si, não é motivo suficiente e capaz de conferir um estatuto especial a estas pessoas.

Mas, há vizinhos e vizinhos. Há vizinhos simpáticos, respeitadores e educados – E são mesmo. Outros pensam que são, querem fazer crer que são, e não são. E outros, não são e assumem que não são. E, obviamente cada grupo comporta-se de forma diferente: - Os primeiros têm um comportamento exemplar e não perturbam ninguém. Os segundos, pelo contrário, têm procedimentos e atitudes, no mínimo, chocantes e bizarras. Os terceiros, têm atitudes idênticas aos segundos, mas não é de admirar. Nestes, últimos, é vulgar a coscuvilhice barata, odiosa com comentários que destilam carradas de inveja:

…..”Oh! aquele lá do fundo já tem um carro novo!!! Rica vida. O dinheiro de alguns dá para tudo!!! Só o meu não dá para nada.” ….”Aqui os do lado, não sei que vida é a deles!!! Ela vai duas vezes por semana ao cabeleireiro, ele anda sempre engravatado, deve ter a mania que é importante!!! Sempre gostava de saber o que fazem!!!” ….”Ali os do meio andam sempre com obras!!! É o arranja e desmancha – Mas quê, o muito dinheiro, faz mal!!!” Etc… etc… etc…

Mas há mais!. Quando não se ficam pelos comentários baratos e tentam imitar-se!. É um assombro. Até faz impressão. É vê-los num frenesim, desenfreado, a fazer compras, trocas, obras e outras coisas mais, que não me lembro. Têm necessidade de dar nas vistas e mostrar que são superiores aos outros.

E não se ficam por aqui!. É de sublinhar o seu comportamento com o animal de estimação, o cão!!!. – Um arranja um caniche o outro, forçosamente, tem de arranjar um cockers ou um lulu, que é mais “finesse”. De manhã, é ver as “madames” passear os cachorros, deixando-os fazer as necessidades em qualquer lado, na maior parte das vezes, à porta dos outros, sem qualquer preocupação de apanhar o respectivo dejecto. – O vizinho que apanhe, se sentir incomodado!!! – Dizem para os seus botões. Não é menos interessante, quando, de noite ou de dia, põem os cachorrinhos à varanda ou à porta de casa, em exposição, a ladrar horas seguidas. Um tolera-se, mas muitos, até dá a impressão que a rua ou bairro é um canil. Mas há ainda os que gostam tanto da cantoria dos caninos, que além do caniche ou cockers arranjam um são bernardo ou semelhante. É preciso, é que seja grande e tenha gorja para fazer de baixo na orquestra.

E, já não vou explorar aqueles que nos dias “sim”, dizem um bom dia todos sorridentes, nos dias “não”, moita carrasco. Nem olham. Como se pode entender este tipo de pessoas.

Este tipo de comportamento e atitudes não são admissíveis entre pessoas que se respeitam. São atitudes incomodativas. Incomodam sobretudo o primeiro grupo de vizinhos, que ficam perplexos. – É isto uma zona de habitação? – Interrogam-se!!!. Daí fazer-me confusão, a prática de alguns actos entre vizinhos do segundo e terceiro grupo: - Dar a chave de casa, para a eventualidade de o homem da EDP contar a luz; convites frequentes para beber café ou tomar um whisky; petiscadas nas tardes do fim de semana – são exemplos. Se não se respeitam!!!. Porquê isto? Sinceramente é um fenómeno que não compreendo. Não somos bichos. Somos pessoas e como tal temos aptidões para nos relacionarmos uns com os outros. De uma relação ténue, que se aconselha no inicio, pode nascer, desenvolver-se e fortalecer-se uma grande amizade. Quando isto acontece, não é por serem vizinhos, tornaram-se amigos. Penso que isto só é possível entre as pessoas do primeiro grupo. E aqui sim, a amizade já é motivo suficiente para a concessão de estatuto especial a um vizinho.

 

Jcm-pq

publicado por jcm-pq às 18:15
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Quinta-feira, 9 de Outubro de 2008

Personalização

Um dia destes, estava a almoçar e tocou o telefone. Atendi. Do outro lado da linha, uma voz feminina, muito suave, perguntou :

 - Posso falar com o Sr. JM?

- É o próprio – Respondi

- Estou-lhe a falar do Hotel XPTO, para lhe comunicar, que foi sorteado com uma semana de férias para duas pessoas, no Algarve, em local à sua escolha …

Não deixei continuar a senhora. Interrompi e disse:

- Agradeço, mas não estou interessado.

Ainda houve alguma insistência da senhora, mas consegui desligar sem brusquidão. Todos sabemos, muito bem, qual a finalidade destes prémios. Como ninguém dá nada a ninguém, o objectivo é vender algo. Mas só cai quem quer!.

 

Lembro-me da correspondência publicitária, que diariamente nos aparece na caixa do correio. Iniciam com: “ Prezado Sr. ……..”, ou “ Caro ……..”, ou com mais intimidade “Amigo ……..”. Em seguida vem o convite para que o “Prezado Sr”, o “Caro”ou “Amigo” troque de carro, passe férias na Tailândia ou Nordeste Brasileiro, compre enciclopédias ou objectos de arte. Isto tudo a preços vantajosos.

Claro que, depois, os preços são tudo, menos vantajosos. Mas também só cai quem quer!.

 

Não me impressiona a lenga lenga utilizada. A essa já estou habituado. Impressiona-me, é a insistência, a repetição e a manutenção destas práticas. Isto não é novo, já tem anos! Mas se mantém é porque resulta, porque alguém adere. E, porque é que aderem? Não tenho a resposta, mas parece-me, que a simpatia da abordagem e tratamento personalizado são a chave.

Quem busca os nomes e títulos e os menciona ao telefone ou escreve em panfletos publicitários, deve presumir que o “Sr.”, o “Caro”, ou o “amigo” se sentirá lisonjeado. - “Quanta gentileza, tratarem-me assim” – O “Sr”, O “Caro” ou o “amigo” de coração amolecido, agradece a gentileza e sente-se disposto (na obrigação) a embarcar.

Esta invasão da privacidade, quer por via telefónica, quer por correio, a oferecer ou vender produtos e serviços não solicitados, é inominável.

 

Isto é massacre. Massacre pessoal !!!.

 

Que contrato ou ética autoriza semelhante violência?

 

Jcm-pq

publicado por jcm-pq às 17:36
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Terça-feira, 23 de Setembro de 2008

Os Idosos

Com alguma frequência tenho ouvido dos meus familiares idosos, manifestações de desgosto, desalento e desilusão com a vida. De maneiras diferentes, todos apontam no mesmo sentido - Que já não servem para nada, que ninguém lhes liga, mas que também não admira, porque nunca ninguém lhes deu valor ou apreciou. Ao princípio não ligava, até achava natural e que era próprio da idade.

Ultimamente tenho comentado isto com amigos e curiosamente dizem-me que os seus familiares dizem o mesmo. Sendo assim, parece-me um fenómeno generalizado, o que é preocupante.

Matutei no assunto e cheguei á conclusão que nós somos os culpados. Somos culpados porque não dialogamos com eles, e quando o fazemos, se não ouvimos o que queremos ou gostamos, acabamos por arrematar o diálogo com frases fatídicas, do tipo: “agora já não é assim”, “isso era no seu tempo”, “você sabe lá o que está a dizer” etc…, e desligamos. Uma atitude destas é, no mínimo, desumana.

É verdade que determinados assuntos da actualidade sejam do seu desconhecimento e consequentemente a sua opinião seja descabida ou disparatada. Mas eles querem falar, querem ser simpáticos, querem ser prestáveis, em suma, querem sentir-se úteis. De facto deve ser muito triste, sentirmo-nos passados e inúteis e pensar que a nossa vida foi banal e sem qualquer importância. Factos essenciais que levam o idoso, em desespero, a manifestar-se da maneira que o faz.

Em face disto, e se a minha teoria estiver certa, porque não mudarmos o sentido do diálogo, para algo que eles saibam discutir - chamar-lhes a atenção para o bom que foi eles terem existido, o quanto contribuíram para a felicidade dos que com eles conviveram, lembrar-lhes coisas boas do passado, lembrar-lhes algo de notável que tenham feito ou que lhes tenha acontecido - não conheço nenhum idoso que não goste de falar no seu passado.

No fundo é retribuir-lhes o amor e carinho, que nos deram, quando dele precisamos. E, quantas coisas mais poderíamos fazer por eles? Penso que muitas.

Se todos procedêssemos deste modo, aquelas angústias e desesperos com que deparamos, certamente, tenderiam a desaparecer.

Se nos transformarmos nos seus Anjos da Guarda, contribuiremos para que os seus últimos dias de vida, sejam passados com alguma felicidade e dignidade.

 

Jcm-pq

publicado por jcm-pq às 18:14
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