Sábado, 18 de Dezembro de 2010

Boas Festas

Desejo a todos os meus amigos do blog e seus familiares um bom Natal e um Feliz Ano Novo.

 

Jcm-pq

publicado por jcm-pq às 18:12
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Domingo, 5 de Dezembro de 2010

As Novelas

As novelas tal qual as conhecemos são o fruto do desenvolvimento tecnológico na área da comunicação.

Iniciaram com o aparecimento da rádio. As novelas radiofónicas.  Não sei qual foi a primeira transmitida em Portugal. Lembro-me da “Maria”, transmitida aí pelo fim dos anos cinquenta, princípio dos sessenta. Foi extensa e teve  êxito. Era dramática. A entoação dada pelos autores era tão convincente, que os ouvintes, sobretudo as mulheres, choravam. Os maus eram rebaptizados com nomes pouco próprios!... Algumas reviam-se na trama e até prognosticavam o final. Não me lembro de outra, nem antes nem depois, mas admito que tenha havido mais.

Na época de ouro da rádio, romances famosos de bons escritores foram adaptados e transmitidos, abrangendo, por esta via, um universo maior da população. Estavam disponíveis em livro, mas, lembro que até meados do século XX, a maior parte das pessoas era analfabeta. Foi um grande salto na divulgação de cultura, costumes e informação, até então, só privilégio de alguns. Mesmo assim, ainda ficou muita gente de fora, devido á escassez de rádios. Na altura, um rádio era um objecto de luxo.

A televisão, logo que apareceu, revolucionou e desenvolveu esta actividade em grande escala. Concorreu e fez bastante mossa no cinema clássico. Não necessitava do aparato das produções cinematográficas e podia ser vista na comodidade do lar. As estações criaram os seus próprios estúdios e contratavam os actores pontualmente para as produções que se propunha realizar.

Penso que os pioneiros foram os Americanos. A série “Bonanza” nos anos cinquenta / sessenta foi um êxito espectacular. Outras que se seguiram não ficaram atrás.: Dallas, Sérpico, Missão Impossível são exemplos. Algumas até já foram ou estão a ser repetidas. O Chaparral – actualmente – foi transmitido aos Sábados pela RTP Memórias.  Mesmo em repetição, sabe bem ver, o que indica a sua qualidade.

Eram boas, mas tinham um senão!... Eram legendadas. Tendo em conta a taxa de analfabetismo da época …concluímos que a maior parte se ficava pelas imagens, sem perceber a história.

O Brasil, encarregou-se de resolver o problema. Muito cedo começou a produzir as suas próprias novelas. Tanto quanto sei a, extinta, TV Tupi, baseada no livro de Jorge Amado, produziu em 1960 a novela “Gabriela Cravo e Canela” que teve, no Brasil, um êxito estrondoso. O êxito foi tão grande que em 1975, a TV Globo, resolveu produzir uma nova adaptação. O êxito ainda foi maior!. No nosso país, até á revolução de Abril, não passou nenhuma novela Brasileira. Penso, sem certeza, que tal facto se deve á situação política que, então, se vivia!... A Televisão totalmente controlada pelo estado e a censura, são, indicadores, mais que evidentes!...

Como não podia deixar de ser, as novelas Brasileiras eram faladas em Português!. Isto para o nosso país era ouro sobre azul. Ver as imagens, perceber e entender a história era magnífico!... Tendo consciência disso, os responsáveis pela programação da RTP, em 1977, compraram, á TV Globo, os direitos de transmissão do novela “Gabriela Cravo e Canela”. Foi a primeira novela a ser transmitida na nossa Televisão em língua portuguesa. A estreia foi em 16 de Maio de 1977. O êxito foi enorme. Revolucionou os nossos gostos, hábitos e sobretudo atitudes. Á hora da novela, transmitida em horário nobre, o país parava para ver. Correu o boato que um Conselho de Ministros terá sido interrompido durante o último episódio, para assistirem ao desfecho!.. Por todo o lado se ouviam frases e termos brasileiros!.. Durou sete meses, com transmissão de cinco episódios por semana.

A partir daqui, outras lhe sucederam, com êxitos idênticos: Casarão, Roque Santeiro, Rainha da Sucata e Escrava Isaura, esta em segunda adaptação – Foram algumas!... A larga experiência, quer de produtores quer de actores, garantia a qualidade das produções e consequentemente o êxito.

Penso que o êxito brasileiro alcançado, contagiou os portugueses, que em pouco tempo lhe seguiram o exemplo. O humorista Herman José, deu os primeiros passos, com os seus sketch´s episódicos. A primeira grande produção a sério, foi levada a cabo pela RTP, com a novela “Vila Faia”. A história era interessante e o elenco de actores era do melhor que tínhamos. Não tinham experiência de Televisão mas eram autoridades em teatro e revista. Adaptaram-se perfeitamente. Não me lembro qual a novela brasileira em exibição, na altura, mas, fosse qual fosse não prejudicou a portuguesa. O êxito foi acima do esperado. Para início a RTP e todos quanto colaboraram, estavam de parabéns. E, na verdade, com adaptações de grandes obras ou guiões próprios,  nunca mais pararam: Origens, Maria do Mar, Ilha dos Amores, a Ferreirinha – são exemplos. Sem esquecer o recentíssimo galardão à “Meu Amor”. A abertura dos canais privados, SIC e TVI, contribuíram em grande para o seu desenvolvimento. Cada estação tem, actualmente, os seus próprios produtores e actores exclusivos.

Hoje, verificamos que uma boa parte da programação dos três canais a operar, é dedicada ás novelas. Por vezes, em horário nobre, são transmitidas duas. Normalmente uma portuguesa e outra brasileira. Em qualquer delas a audiência é elevada; o que não me surpreende, uma vez que o enredo foca casos que mais parecem reais.

No entanto, como em tudo, há quem as critique negativamente. Classificam-nas de anti culturais e acham que são em demasia. Dizem que não vêm!.,.,, Que não vêm “foleiradas”!... Mas, alguns destes “pseudo críticos”, em conversa corrente, utilizam termos que não enganam!... Conclui-se, que afinal vêm!...

As novelas são um fenómeno que dignifica realçar. Além de projectar cultura e informação, entram na esfera económica, ao criar postos de trabalho. Com o teatro e revista em decadência ou com pouca procura, os actores disponíveis e candidatos, podem assim desenvolver e aceder, mais facilmente, á actividade. Mais, promovem o consumo nacional e permitem a comparação dos nossos actores com os estrangeiros, que em nada lhes ficam atrás. No fundo, as novelas são um exemplo de progresso, fruto do progresso!...

publicado por jcm-pq às 10:02
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Terça-feira, 2 de Novembro de 2010

Nasceu sem nada e morreu sem nada

 

Nasceu sem nada e morreu sem nada

 

António Monteiro, foi o segundo filho de um casal que vivia da caridade. O irmão, João, tinha mais dois anos que ele. A casa onde viviam, era um palheiro emprestado, térreo de espaço aberto e de telha vã, muito quente no Verão e muito frio no Inverno. Uma lareira, sem chaminé, num canto, aquecia o ambiente. As camas, enxergas, em cima de uma tarimba, estavam prostradas perto da lareira. Era um lar que tinha pouco mais que zero. Os pais que nunca se preocuparam em arranjar trabalho viviam de esmolas. Saíam de manhã, com saco ás costas e de porta em porta, na aldeia e em aldeias vizinhas, pediam ajuda. Eram bem conhecidos de toda a gente. Com pena, piedade e por caridade as pessoas davam algo do pouco que tinham: Alimentos, na maioria, já cozinhados, roupas e utensílios usados. Raramente, dinheiro. Destas parcas esmolas vivia esta família. Os dois filhos logo que cresceram, seguiram o mesmo caminho.

O António era um miúdo muito vivo. Cedo se apercebeu da miséria em que vivia.  Olhava os miúdos da sua idade e tinha pena de não viver como eles. Sonhava com uma casa como a deles!!!. Sonho esse, impossível de realizar a pedir esmola. Sentia-se o mais pobre dos pobres!!!.

Aos 12 anos conseguiu que um pequeno construtor civil lhe desse trabalho como servente de pedreiro. Embora, o salário fosse muito pequeno, permitiu melhorar substancialmente a vida da família. O irmão, vendo que era melhor ter dinheiro que pedir, seguiu-lhe o exemplo. Com dois salários, já podiam comprar a maior parte do que necessitavam para viver. Recebiam á semana. A meio da semana seguinte, já não havia dinheiro. Os pais gastavam tudo. Acomodados á situação, saíam uma vez ou duas, por semana, a pedir. Basicamente viviam á custa dos filhos!. Foi assim, durante dois anos. Os filhos trabalhavam e os pais ficavam em casa.  Como era de prever não amealhavam nada e continuavam a viver mal.

O João, com 17 anos, começou a ver que assim não melhorava a sua vida. Um dia pôs os pontos nos i´s: - Do meu salário vou-lhes dar metade para gastos da casa, e a outra metade vou juntar. – Disse aos pais. Estes ainda barafustaram, mas tiveram que aceitar. Aos vinte anos, com a profissão de pedreiro, casou e fez uma vida normal. Estabeleceu, dar aos pais, um montante para sobreviverem.

O António queria ir mais longe. Seguiu o exemplo do irmão: Começou a amealhar metade do salário. Mas, era pouco para a sua ambição. Dava voltas á cabeça, tentando descobrir, a maneira de ganhar mais dinheiro!!.

Algumas famílias da aldeia que tinham hortas, habitualmente criavam um animal doméstico para vender: Porcos, cabritos e borregos eram os mais comuns. António pensou nisto, mas não tinha horta!. Ao saber que um proprietário, por motivos de saúde, queria arrendar a sua, nem pensou duas vezes!. Tinha dinheiro, mais que suficiente, que lhe permitiu pagar a renda de um ano. Comprou cinco borregos pequenos. Ao fim de três meses vendeu-os pelo dobro. Comprou mais cinco e fez o mesmo três meses depois. Aos dezoito anos, tinha um bom pé de meia. Mesmo assim, para a sua ambição, achava pouco.

Experimentou encurtar o tempo de criação. Ganhava menos em cada uma, mas vendia mais. Compensava. De três meses passou para mês e meio; de mês e meio para um mês; de um mês a quinze dias; até que se tornou negociante de gado: Comprava e vendia de imediato. Fornecia talhos e andava de feira em feira. Deixou de trabalhar por conta de outrem, á medida que o negócio cresceu.

Aos vinte anos estava por sua conta e risco. O negócio prosperava. Ganhou muito dinheiro. Não era rico mas vivia sem problemas. Não comprou terras, mas fez uma casa, enorme, com todas as comodidades da época.

A força do dinheiro, transformou a sua simplicidade e humildade em vaidade, arrogância, presunção e egoísmo. Não quis os pais a viver com ele. Por descargo de consciência, responsabilizou-se pelo aluguer de uma pequena casa com condições aceitáveis de habitabilidade. Pagava a renda e contribuía com algum  dinheiro para a sobrevivência dos velhos.

Contavam-se muitas histórias, acerca das suas atitudes incorrectas que lhe mereceram o desprezo de muita gente. Gente, que o ajudou a criar, enquanto viveu das esmolas. De todas a mais impressionante foi a que se passou com o seu principal fornecedor de gado, um criador da aldeia. Tinha muitas terras e vivia bem. Criava vacas, ovelhas e cabras. Toda a criação, para venda, era transaccionada com António. Vivendo os dois na aldeia, tornava-se fácil, cómodo e vantajoso.  Como bom negociante, o António não pagava logo. Uma vez, atrasou-se mais que o habitual e o criador foi a casa pedir-lhe o dinheiro. Este era simples, humilde e educado. O calçado que usava era próprio dos lavradores da época: Tamancos. Bateu á porta de António, e quando este respondeu, pediu licença para entrar!.. A resposta foi surpreendente: - Não. Em minha casa não entram pategos que calçam tamancos. Ah!. Desculpa!. Venho ver se me podes pagar os borregos que levaste no mês passado?. – Balbuciou o criador, com espanto!. – Já estava aqui de lado!. Pega!. – Com um obrigado, o criador afastou-se.

Obviamente o homem não gostou!. Já sabia da soberba do outro, mas nunca pensou ser humilhado, daquela maneira, tendo em conta o relacionamento de “negócio” entre os dois. A vingança, do criador foi simples: - No fornecimento seguinte a este episódio, exigiu o pagamento imediato!. Claro que António não gostou, mas teve que se sujeitar!. O negócio era demasiado bom para o perder.

Com muito dinheiro, António começou a ter muitos “amigos”. Com ostentação pagava “copos” e mais “copos”. Com alguns, de fora da aldeia, até grandes petiscadas fazia. “Amigas” também não faltavam. Eram mais que muitas. Com estas, António era muito fraco. Até dinheiro lhes emprestava. Com uns “favores” e umas choradeiras pelo meio, acabava por lho dar!!!.

Com a idade de 70 anos, António, já não conseguia dinamizar o negócio. Entrou em declínio. Os lucros eram cada vez menores!. O custo, de sustentação da “bela” vida e dos amigos era superior ao rendimento. Em dez anos, estoirou o que tinha conseguido arranjar!!!. Vendeu a casa com tudo o que tinha dentro e fez da furgoneta a sua habitação!. Os amigos afastaram-se. Passavam por ele, fingindo não o ver ou conhecer.

Acabou por vender a furgoneta e foi viver, sem ordem, para o palheiro onde nascera, que entretanto tinha sido comprado pelo criador dos “Tamancos”. Este ao vê-lo lá, numa manhã, aproximou-se e disse-lhe: - Oh! António!. Eu podia correr contigo daqui para fora. Só não o faço porque tenho pena de ti!.. … Autorizo-te a ficares o tempo que quiseres!. – E, fixando os sapatos, velhos, que António tinha nos pés, disse: - Quando acabares de romper os sapatos que tens calçados, terei muito gosto em te oferecer uns tamancos. – Voltou-se e foi-se embora, sem dizer mais nada.

Passado algum tempo, António faleceu: Morreu como nasceu!. Sem nada!!!.

publicado por jcm-pq às 17:44
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Sábado, 26 de Junho de 2010

O São João no Porto

O S. João, um dos mais popularizados Santos, é festejado no Porto com toda a pompa e circunstância, mantendo a tradição que já vem de séculos. Segundo Hélder Pacheco, pesquisador das memórias populares tripeiras, o cronista Fernão Lopes já mencionava o S. João nas crónicas de D. João I.

Os festejos, de cariz popular, são preparados de forma discreta ao longo do dia. O início, propriamente dito, dá-se a seguir ao, tradicional, jantar de sardinhas assadas acompanhadas por boas saladas e vinho tinto ou verde. Terminado o jantar, os grupos de amigos reúnem-se nos locais, previamente, programados para darem início ás rusgas. O circuito tradicional, obrigatório, das rusgas é bastante longo: Fontainhas, Rua Alexandre Herculano, Praça da Batalha, Rua de Santa Catarina, Rua Formosa, Rua Sá da Bandeira, Rua Passos Manuel, Praça da Liberdade e Avenida dos Aliados. O percurso junta milhares de pessoas, munidas de martelinhos de plástico, que se movimentam agilmente, dando pancadinhas com o respectivo martelinho, nas cabeças daqueles com quem se cruzam. Antigamente, em vez dos martelinhos havia alhos porros e molhos de cidreira. Daí, o cheiro característico que se fazia sentir na cidade. Os bairros circunscritos na área das festas, organizam bailes que duram até altas horas da madrugada.

Nos dias de hoje, o S. João espalhou-se pela cidade e arredores. É festejado em discotecas, pubs e restaurantes. Tornou-se mais selectivo e cosmopolita. Perdeu um pouco a graça e a virtude de festa onde ricos e pobres conviviam uma noite de inteira fraternidade. As pancadinhas eram e são dadas indiscriminadamente sem olhar a status sociais e ninguém se zanga ou melindra. No entanto muita da tradição ainda se mantém: Os manjericos, as tendas das fogaças, as farturas, as barracas da sardinha assada; o lançamento de balões ao longo da noite e o fogo de artificio á meia noite.

A descrição fica muito aquém da realidade. Só ao vivo se pode apreciar tal beleza. É um festa sem igual no país. Quem puder deve assistir, nem que seja só uma vez, e garanto que não se vai arrepender!... Viva o São João.

 

 

Nota: Pesquisa diversa não identificada.

 

Jcm-pq

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Terça-feira, 15 de Junho de 2010

As Noivas de Santo António

 

A fama, casamenteira, de Santo António já vem de longe. O facto ou os factos que originaram esta fama, acho que ninguém sabe. Contam-se muitas histórias e contos de como começou, mas não há certezas!...

Um conto que conheço, relativo á fama, até tem alguma piada!.. O gesto que podia ter provocado um acidente, deu em casamento!... Foi assim: Uma bonita jovem donzela, com idade casadoira, esperava há muito que um noivo a procurasse. Esperou!.. Esperou!... e nada. Já farta de tanto esperar, arranjou uma estatua de Santo António, o padroeiro da sua terra. Num canto do quarto, fez um altar onde expôs, num pequeno pedestal, o Santo. Acendeu uma lamparina, de azeite, que procurou manter acesa dia e noite. Todos dias, ao deitar, ajoelhava frente ao santo e orava para que lhe arranjasse um namorado!... Se não houver um mancebo novo, contento-me com um velhote, desde que não ande de muletas!... Rogava na sua oração!... Repetiu o ritual durante semanas, meses, anos … e nada aconteceu!.

Certa manhã, em vez de orar, lamentou a ingratidão do Santo. – Tanto azeite gasto!... Tanta oração!... Deves estar surdo!... Eu, que nem sou esquisita, não mereço que não me ouças!... – Desvairada, pegou no Santo e atirou-o pela janela, no momento em que sua mãe entrava no quarto, atraída pelas lamentações!... – Blasfemaste e cometeste um ultraje. Valha-te Santo António, filha!... – Repreendeu a mãe, benzendo-se.

Passava na rua, um jovem cavaleiro, bonito e alegre, que levou com a imagem do Santo na cabeça!... Se não fosse o capacete, teria sido derrubado do cavalo, provavelmente, com um valente “galo”. Com cortesia, desmontou, pegou na estátua, que por milagre ficou intacta, e subiu as escadas exteriores da casa para devolver a imagem. Quem abriu a porta, por notável coincidência, foi a donzela. Perante a beleza da rapariga, o jovem cavaleiro apaixonou-se e passado pouco tempo casaram. … Milagre de Santo António!...

Os jogos também fazem parte da fama .

Em tempos idos, por brincadeira, as raparigas em idade de casar e sem noivo, faziam dois jogos com Santo António. Ambos na véspera do dia do Santo:

Um consistia em encher um alguidar com água e meter dentro, enrolados, como sendo rifas, papelinhos com os nomes daqueles com quem gostariam de casar. Á noite colocavam o alguidar debaixo da cama. No dia seguinte o papel que estivesse mais desenrolado, revelava o nome daquele que iria ter como marido.

O outro, faziam três bolinhas de massa de pão, e introduziam numa delas um grão de pimenta. Uma bolinha punham debaixo do travesseiro; outra atrás da porta e a outra atiravam pela janela fora. No dia seguinte, viam onde estava a bolinha com o grão de pimenta. Se estivesse: debaixo do travesseiro, o casamento seria breve; detrás da porta, casariam tarde; se foi para rua, nunca casariam!...

Durante muito e muito tempo, os noivados de Santo António não passavam destes jogos ou preces para as mais crentes.

Entretanto as coisas mudaram. A comunicação social e o marketing, meteram-se no assunto e aproveitando a fama do Santo, deram-lhe uma notoriedade diferente.

Todos sabemos que o mês de Junho é o mês dos Santos Populares. Santo António, S. João e S. Pedro são os mais popularizados. Os festejos fazem-se por todo o lado. A magia do acontecimento, o cheiro a manjerico e alfazema, o fumo das fogueira e o cheiro a rosmaninho são a imagem de marca. O nosso país mantém a tradição!... e ainda bem!... espero que não morra!...

Por volta dos anos 50, o Diário Popular e os comerciantes Lisboetas, tomaram a iniciativa de patrocinar casamentos de casais com dificuldades económicas, que presenteavam com enxoval e equipamentos domésticos. O padrinho, comum a todos os casais, era Santo António e o dia escolhido para a cerimónia foi o dia do Santo. O 13 de Junho. E assim nasceram as Noivas de Santo António tal como as conhecemos hoje.

A acção teve tanta aceitação popular, que a Câmara Municipal de Lisboa, desde logo apoiou o projecto. A projecção foi tal, que o acontecimento se tornou incontornável e passou a fazer parte das festas populares da cidade.

A tradição foi interrompida em 1974. Mas, em 1997, unilateralmente, a Câmara recomeçou a patrocinar o projecto, integrando-o no programa das festas.

Nota: Pesquisa diversa não identificada.

Jcm-pq

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Quinta-feira, 13 de Novembro de 2008

Faina da azeitona

Nestas duas semanas anteriores, estive ocupado na faina da azeitona. Uma tarefa que já há muito tempo não participava nem via . Antes de iniciar o serviço militar participei em pleno! E, já lá vão quarenta anos! A actividade profissional também não mo tem permitido! Este ano foi o primeiro em que tive disponibilidade para tal!.

Recordei o passado!. Recordei os grandes ranchos (camarada) de homens e mulheres, normalmente casais, que se dedicavam em grupo à tarefa. Eram contratados por proprietários, com grandes olivais, em regime de empreitada ou à jorna. Para os proprietários era a maior fonte de rendimento ao longo do ano. Consequentemente, também, era a tarefa mais bem paga. Era bom para todos.

Os grupos, normalmente constituídos por quinze a vinte elementos, desenvolviam a tarefa de forma organizada. O capataz, responsável pelo grupo, coordenava as acções. Os homens munidos de escadas móveis subiam às oliveiras e ripavam a azeitona que caía em mantas, previamente estendidas pelas mulheres. Logo que terminavam numa oliveira mudavam para outra e assim sucessivamente!. As mulheres além de mudarem e estenderem as mantas apanhavam do chão as azeitonas que por diversas razões não ficavam nas mantas. Os grupos eram alegres. Quando o dia estava a correr bem, cantavam canções populares alusivas à tarefa. Recordo a mais popular: O “sol e dó” - Não te rias de quem chora, ai solidão, solidão! Que a Virgem também chorou, ai, ai, ai, ai…… - Assim dizia a letra!

 

Hoje é diferente. Os grandes proprietários acabaram, após a Revolução de 25 de Abril, em consequência da Reforma Agrária. O regime de pequena propriedade não justifica a formação dos ranchos à semelhança de outrora. Cada família colhe a sua. Quanto muito formam-se grupos tipicamente familiares (irmãos, filhos, primos …) que fazem uma camaradagem agradável. Foi o meu caso. Fizemos um grupo de seis elementos. Bem perto, uma família mais numerosa, formou um bonito rancho de dez. Estes, em dada altura ainda deram um ar de graça ao canto do “sol e dó”. A maior parte não sabia a letra! Mesmo assim gostei de ouvir!

 

E foi assim. Duas semanas numa tarefa que me deixou as mãos em mísero estado, mas que me trouxe muitas, muitas saudades!...

 

Jcm-pq

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Segunda-feira, 15 de Setembro de 2008

As Vindimas

Anualmente, por esta altura, colhem-se as uvas. É a época das vindimas!. Por todo o país se labuta nesta tarefa. Devido ás particularidades do clima, o início e o fim não é coincidente em todas as regiões. Em qualquer dos casos nunca vão para além do mês de Setembro. Cada região, tem o seu costume e tradição. Há regiões, sobretudo no Norte, que a vindima é uma autêntica época festiva. Logo ao amanhecer os ranchos encaminham-se para as vinhas, em romaria, cantando alegremente. A colheita e o transporte das uvas em cestos, para os tractores, que substituíram os carros de bois de outrora, fazem-se, ao som dos cantares tradicionais da região. Á noite, o esmagamento das uvas, é festa de arromba. Os homens, em calções, perfilados no lagar, abraçados, formam um cordão uniforme, que em movimentos de marcar passo, vão lentamente esmagando as uvas. Também esta tarefa é efectuada ao som dos cantares tradicionais acompanhados de acordeão. Comer e beber não falta. Homens, mulheres, garotos, velhos e novos, todos participam.

As televisões, mostram este espectáculo, digno de se ver. É a alegria, simples, do povo. – É bom, bonito, alegre e interessante, mas é uma amostra em relação a antigamente – Dizem os mais idosos.

As outras regiões: Beiras, Litoral, Alentejo e outras, também têm os seus costumes. Mais brandos, menos espectaculares, mas também têm o seu encanto. Á semelhança do Norte, a colheita é feita por ranchos e o transporte por tractores. O esmagamento por máquina ou manualmente no sarin dão. Só faltam os cantares, como no Norte.

Actualmente até no Norte, o esmagamento, na maioria é feito mecanicamente. As cooperativas de produção de vinho, são as principais responsáveis.

Seja de que modo for, o objectivo é o mesmo. Colher, esmagar as uvas e fabricar o vinho. O importante é que cada região, á sua maneira, mantenha a tradição e continue a realçar o acontecimento. Que em todo o país, por longos e longos anos, a época das vindimas não passe desapercebida.

 

Jcm-pq

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Domingo, 27 de Julho de 2008

Vaidade não tem idades

Duas senhoras, mãe e filha, idosas, vivem juntas. A mãe, velhinha, com cerca de noventa anos, está entrevada. Faz a sua vida, de dia, numa cadeira de rodas. De vez enquanto, apoiada na sua bengala e com ajuda da filha, com muito custo, lá se endireita e dá uns passinhos. Vê e ouve mal. O ouvido atraiçoa-a. Deturpa-lhe os sons, dificultando por sua vez o seguimento das conversas. Tem, no entanto, apetite e um paladar apurado. Abusa deles, é claro.

Diz a filha e os vizinhos, também, já em idade avançada, que quando nova, foi muito bonita. Agora é uma figura triste, curvada e de cor amarelenta. Usa óculos com lentes muito grossas, de aumento forte, que escondem uns olhos azuis, ainda bem bonitos, mas que vistos através delas, parecem olhos de peixe. O seu nariz, curva em direcção ao queixo aguçado. É uma imagem que condiz com a idade.

A filha, com menos vinte anos, caminha para o mesmo. Ainda tem porte altivo e alguma elegância, mas já se nota curvatura nas costas, dificuldade no andar, falta de vista e ouvido. Á semelhança da mãe, também abusa do paladar apurado. Os seus traços fisionómicos indiciam ter sido uma mulher bonita. Raramente sai á rua, devido ao estado da mãe.

Têm, no entanto, um arsenal de produtos de beleza de fazer inveja: Cremes, loções, blushes, perfumes, batons e vernizes, é o que não faltam. Ambas se servem deles.

A mãe, serve-se do espelho, mas como vê muito mal, de pouco lhe serve. As camadas de creme ou blushes e nódoas de baton são frequentes na cara enrugada. Ainda com uma cabeleira semi-farta, tem cuidados especiais com o penteado: Carrapito (mal feito), cabelo solto e caído, encaracolado (irregular) com rolos manuais são alguns tipos de penteado. São todos feitos por ela. Não larga o pente, a não ser para comer ou tratar da maquilhagem. Por vezes, com a sua mão trémula e enrugada, vê-se a torcer os caracóis com gesto a fazer lembrar a adolescência.

A filha , também se arranja muito bem. Com melhor vista e mais porte cuida-se melhor. Não se vêm nódoas de baton no rosto, mas abusa do blushe, dos cremes e dos vernizes. Arranja o cabelo com frequência, mas mantém o mesmo penteado: Cabelo caído a dar pelos ombros.

Os filhos de uma e netos da outra, pedem-lhes, para não se pintarem tanto. A mais nova, nem responde, ignora e continua a fazer o mesmo. A mais velha irrita-se, revolta-se – O que vocês querem é que não pareça bem!... – Diz ela, quando não amua.

Uma e outra são felizes assim. Sentem-se bem!. Cuidarem da sua imagem, faz parte da sua maneira de ser. Sentirem-se bonitas e cuidadas é viverem melhor!... Serem vaidosas, não é defeito. A vaidade não tem idades.

 

Jcm-pq

publicado por jcm-pq às 15:48
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